quarta-feira, 22 de junho de 2011

Gritos, baques, rosnados e uma vingança de amor

                A noite estava com poucas nuvens, permitindo uma bela vista das estrelas e da grande lua cheia pouco acima do mar. Reynald sempre soubera como impressionar uma mulher, mas esta era especial, esta conquistara seu coração. O sonho que tivera, com uma linda mulher dançando com o mesmo vestido vermelho, que ela vestia quando a conheceu na noite seguinte. Tudo mostrava como ela era especial e perfeita para ele. Tudo mostrava que aquele jantar em sua casa de praia, 50 km distante de qualquer coisa, seria ideal.
                Juliene havia acabado de trocar-se para o jantar e já descia deslumbrante pela escada central. Uma linda mulher de cabelos vermelhos brilhantes e corpo com curvas delicadas e provocadoras marcadas por um simples vestido vermelho. Sua pela branca naquela noite estava mais corada, Reynald não se lembrara de vê-la assim outras vezes, sentiu o peito arder, julgou ser paixão.
                Após o jantar a beira mar, Reynald convidou Juliene para uma caminhada à praia, mas sem perceber, a jovem o enredava mais com suas provocações, levando-o cada vez mais para perto do bosque nas redondezas. Reynald deitou-se com ela na grama, não se lembrava do corpo de Juliene ser tão quente, julgou ser o desejo, começou a despi-la e se entregaram ao prazer.
                Deitados ainda, Juliene estava pálida e Reynald percebeu sua pele mais fria, quase gelada. Perguntou o que estava acontecendo, se ela estava bem.
                - Na verdade não, sabe o quanto me custou todo esse disfarce? – Juliene ganhava um sorriso sínico enquanto falava.
                - E o teatrinho? O quanto me cansou ter que te aturar com todo esse grude nojento... – O sorriso aumentava.
                - O quê você quer dizer com isso? Não estou entendendo nada amor! – Reynald quase em desespero infantil, seus olhos murcharam e já não tinham mais brilho.
                - Não esta entendendo? Eu explico! O sangue fica mais delicioso após uma paixão e uma boa dose de medo... – As presas aumentaram, um sorriso de tubarão.
                O jovem levantou-se em pânico, mas caiu pela calça enroscada nos pés, olhou bem para quem realmente era sua amada. Uma expressão cadavérica aproximava-se lentamente. Ainda houve tempo para ela satirizar o desempenho sexual de sua presa.
                Quando chegou perto o suficiente da presa estática de medo e incompreensão, um uivo cortou as arvores do bosque, uma sensação parecida com algo gélido rastejando espinha acima e acomodando-se no cérebro, Juliene estacou como se houvesse congelado. Realmente congelara.
                Duas criaturas humanóides, grandes e com aspectos lupinos surgiram por entre as arvores. Um era uma pilha disforme de músculos, presas enormes que impediam a boca de fechar-se sem ferir-se, fazendo-o babar debilmente. Seus olhos vermelhos iam de encontro com os de Reynald, livre para correr, mas incapaz de qualquer ação.
                Via pulsar os grandes e grotescos músculos de seu algoz, ao mesmo tempo em que sentia seus próprios desfalecerem. O medo o paralisou.
                O demoníaco lobo humanóide o abocanhou entre a barriga e o tórax, ossos quebraram, vísceras foram puxadas e seu corpo foi suspenso. O jovem soltou um curto grito com todas as suas forças e fôlego. Na verdade, continuou gritando por mais tempo, mas tamanha fora a dor que logo estourara suas cordas vocais.
                O demônio o soltou, suas tripas ainda enroscadas nos dentes da fera não o deixaram cair muito, mas os ossos quebrados logo as perfuraram e rasgaram, levando-o à poça de seu próprio sangue. Não estava morto nem inconsciente, podia ver sangue brotar de seu pulmão em curtos esguichos. Podia sentir sua cabeça mais leve e ansiava pelo doce abraço da inconsciência.
                A segunda criatura, que era esguia e magricela, com muitos ossos protuberantes, aproximou-se da vampira e com uma voz rasgada lhe disse:
                - Este é nosso território! Esta é a lei! Isso agora é guerra!
Reynald sentiu seu coração acelerar, viu o sangue esguichar mais forte, sentiu seus músculos estourarem. Começou a convulsionar no chão.   Seus musculos latejavam, se contraiam, sangravam. Pelos nasciam em todo o corpo, seu rosto começou a se deformar, a transformação o fez gritar novamente. Logo havia um novo ser lupino, que ainda regenerava seus ferimentos de homem, enquanto observava tudo com olhos de fera.
                - Irmão! Mais um no Clã! Sua iniciação será caçar a vampira! – Esbravejou a fera esguia e com um segundo uivo descongelou a nova presa. A vampira correu em velocidade incrível, o novo homem-lobo uivou e saiu com velocidade e ferocidade inacreditável. E naquele bosque se ouviram gritos, baques, rosnados e uma vingança de amor.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ficou muito bom, e bem descrito, apenas não gostei dos lobisomens falarem. Parabéns

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  3. Mandou bem!
    Conto muito bom e com uma boa reviravolta no final!

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