quarta-feira, 29 de junho de 2011

Alex e Andrianne

Alex Thorn não acreditava no que via.
Escondida entre ramos de arvores e pedras enormes, jazia a entrada da caverna, praticamente imperceptível a olhos normais. O cavaleiro sabia que sem ajuda não a teria encontrado. Lágrimas desceram abaixo por sua face suja e cansada. Carregava o corpo de sua amada nos braços, terrivelmente ferida no peito. Fora ferida mortalmente por um flecha. Não podia deixa-la morrer, já havia salvo uma vez e salvaria novamente a qualquer preço, nem que para isso necessitasse sacrificar sua vida. Andrianne Waymar tinha pequenos espasmos a todo instante, a vida se esvaía de seu corpo, em breve estaria morta. A armadura de Alex não passava de frangalhos, seus ferimentos abertos eram demarcados por crostas de sangue seco. Os olhos marejados esbanjavam confiança, mesmo não tendo alcançado seu objetivo. Um olhar para Andrianne e mais uma cavalgada em meio a densa floresta.
O rei Robert Beltrar havia iniciado uma guerra, atacou todos os reinos que divisavam com seu reino, Kahlla. Atacou muitos lugares simultaneamente, incluindo o reino de Hedeon, onde Alex e Andrianne viviam. O jovem cavaleiro tentara lutar, porém não conseguiu mais empunhar sua espada ao ver a mulher amada caída no chão, ferida, havia uma flecha encrustada no lado esquerdo do peito. Sem ter duvidas em seu pensamento, ele a pegou e montou um cavalo qualquer partindo em busca de alguém que pudesse salva-la.
Alex conhecia alguém capaz de realizar tal façanha.
Ouvia muitas histórias, contadas por velhos guerreiros ou bardos errantes, por isso adentrou no interior da Floresta de Dragos. Ali, segundo a lenda, residia um dragão ancestral adormecido, nada era possível ser feito para acorda-lo de seu sono eterno, um castigo de Deus dado a temível criatura. Obviamente aquila era apenas uma lenda, tanto para plebeus quanto para nobres. Apenas um explorador da floresta retornou, dizia ele realmente existir um colossal adormecido. O rei com medo de assustar os habitante, sentenciou o louco a fogueira.
Alex nunca o achara louco.
O cavaleiro sem relutar partiu floresta adentro. Tinha uma chance, fosse a lenda real. Por sorte tinha montado um bom cavalo, forte e veloz. Segundo os tomos ancestrais, dragões possuíam o dom de realizarem atos extraordinários e sobrenaturais, denominados magia. Trilhou um caminho árduo no interior da floresta, se perdeu por várias vezes. Até ouvir uma voz em sua mente indicando a direção, mesmo sem saber se naquele momento perdia toda sua sanidade, igual ao explorador insano. Alex seguiu as coordenadas. Embrenhou-se cada vez mais fundo no interior da floresta extremamente densa. Sentia fome, frio, dor, não pensou nem por um segundo em desistir. Tinha em seus braços o motivo da maior felicidade em sua vida. Perdera a conta das horas.
Sentiu Andrianne perecer em seus braços. Um dia já tinha se passado, agora carregava somente o corpo sem vida de sua amada. Um abismo se rompera em seu coração, queimando qualquer ponta de esperança. Desistia, até encontrar a entrada de uma gigantesca caverna.

Deixou seu cavalo cansado para trás dando-lhe liberdade, o cavalo fora massacrado ao trotar por aquela floresta. O cavaleiro prosseguiu a pé com sua querida mulher nos braços. Avançou pela bocarra sinistra que lembrava a entrada. A escuridão foi tudo que sua visão teve. Hesitou por um instante e ouviu novamente a voz que o guiara até a caverna:
- Agradeço por ter chegado até aqui, Alex.
- Quem...é você? - disse o jovem.
- Meu nome é confuso demais para sua mente compreender, então me chame de Dragos.
Alex desabou em lágimas, caiu de joelhos e pousou o corpo de Andrianne a sua frente mesmo sem enxergar nada. Buscou com a mão a face da jovem morta. Acariciou seus lábios com a ponta dos dedos.
- Há muito tempo espero alguém para me acordar, esperava alguém como você, puro, nobre e movido por um sentimento forte.
- Eu a amo demais, daria minha vida pela dela. - disse Alex.
- Preciso de seu sangue para acordar novamente, então justo, faremos uma troca de favores.
- Você consegue faze-la retornar do vale dos mortos?
- Eu consigo tudo que desejo! - esbravejou.
- Então, o que eu faço? - perguntou o cavaleiro.
Nesse momento, lembranças foram jorradas em sua mente, um turbilhão de imagens e momentos felizes, todos ao lado de Andrianne.
Lembrou-se dos beijos.
Lembrou-se das caricias.
Lembrou-se das promessas.
Porém nada fora mais marcante do que a última lembrança.

Andrianne jogada em meio ao feno, ferida e com suas roupas rasgadas, deixando seu corpo quase totalmente nú. O príncipe Phillip, o comandante da cavalaria real August e o sacerdote Benedict, ao seu redor, olhando seu corpo, fantasiando desejos inescrupulosos. Os três já satisfeitos com o desejo da carne, agora preparavam o grande final. Benedict a banhou com um liquido escuro de cheiro extremamente marcante.
Óleo de dragão.
August a chutou descontroladas vezes. Até sentir sua respiração fraca. O principe Phillip com um tocha na mão, olhou para a jovem de cabelos ruivos e olhos verdes, admirando sua beleza.
- É hora de morrer meretriz!


Phillip teria ateado fogo na jovem que instantes atrás os três haviam tirado-lhe a honra e a pureza, só parou quando um flecha perfurou suas costas, e quando se virou sentiu outra ponta perfurar sua garganta. Caiu para frente e a tocha rolou, distanciando-se da garota. August desembainhou a espada e partiu em sua direção.
Berrando injúrias e bravatas.
Bastaram três golpes, um para partir suas tripas, outro perfurando o coração e o último para decapitar sua cabeça. Benedict ajoelhou e implorou pela vida, ao ver August ser massacrado. Alex jogou a lâmina no chão e sacou um adaga.
- Não me mate, eu lhe imploro. - disse o sacerdote em meio a lágrimas.
- A morte é pouco para você.
Alex passou a adaga nos olhos do sacerdote, estourando-lhe os globos oculares. Esmurrou sua face até ele abrir a boca, tendo sua língua decepada. Depois teve os tímpanos perfurados.
- Isso é para não se esquecer do que fez aqui, não irá compartilhar esta noite com ninguém. E não pense que irá escrever para alguém o que aconteceu.
Teve suas duas mãos amputadas.
A jovem ainda consciente fitava seu salvador com dificuldade na visão. O cavaleiro se aproximou e ajoelhou ao lado da jovem.
- Qual seu nome?
- Andrianne. - disse ela com certa dificuldade.
- Tudo vai ficar bem, está protegia agora.
- Eu te amo, cavaleiro incógnito. - sussurrou ela.

Alex chorava, se lembrando do dia em que conheceu o maior amor de sua vida.
- Está pronto? - disse a voz do dragão.
- Sim.
Um clarão atordoou Alex. Aos poucos ele recuperou a visão e vislumbrou um corpanzil colossal a sua frente. Sacou sua adaga e deslizou a lamina sobre seus punhos deixando o sangue vivo escorrer em direção a bocarra do dragão. Zonzo, viu os olhos da criatura se abrirem.
Dragos retornava.
Alex Thron então caminhou até o corpo de Andrianne. Levou seus lábios, quentes de vida, aos lábios dela, gélidos de morte. Sentiu o corpo arder como se estivesse imerso em chamas, o coração acelerou e seguidamente parou. Estava feito.
Tudo escurecia. Não sentia vigor algum, sua cabeça caiu sobre os seios fartos de Andrianne, ele ouviu o coração dela bater, primeiro timidamente, e depois chegando a normalidade.
- Obrigado, Alex. - agradeceu Dragos.
- Diga a ela que eu a amo. - disse o cavaleiro falecendo.
- Eu direi.

Andrianne não fazia ideia do que acontecera, apenas viu Alex respirando com extrema dificuldade. Ela com os olhos marejados, ouvia uma voz do homem que permanecia de pé atrás de si, ele dizia do que Alex fora capaz de fazer para salva-la. Sem saber porque, ela não se assustou com o homem.
Uma lágrima desceu por sua face e caiu sobre a face de Alex.
Ela encostou seus lábios, quente de vida, aos lábios dele, gélidos de morte.
- Eu te amo, Alex!


- H. R. Sales

domingo, 26 de junho de 2011

Carta aos Sobreviventes - 21/02/1987



Olá, meu nome é Willian T. Torres e sinceramente não sei se o que estou fazendo vale de alguma coisa, está cada vez mais difícil escrever em meio a esse pandemônio e eu nunca sei se vou conseguir terminar a próxima palavra.
As bombas lá fora continuam a cair e a qualquer instante podemos ser todos mandados pelos ares; há feridos em meu batalhão, faz dois dias que não comemos nada e a reserva de água provavelmente acabará ao alvorecer.
Não faço ideia de quem está lendo esta carta agora, mas sinceramente, eu gostaria que soubesse que Eu te amo, não importa seus feitos e defeitos ou suas obras do passado, Eu te amo. Talvez você não entenda isso agora, talvez você nunca entenda, mas na guerra nós descobrimos que todo ser humano precisa de alguém que o ame de verdade, que segure sua mão e lhe dê um abraço amigo, que te tire da sarjeta e limpe a merda que você fez. Todos nós temos um fardo a carregar e, nfelizmente, não são todos que conhecem El Shadday, e é por isso que se agarram em coisas tão pequenas na vida, mas quando se vê a morte de perto é que você percebe o verdadeiro amor.
Parece até absurdo o que estou fazendo,atrás de mim têm um cara caído, o Thomas, ele foi atingido por um tiro de Ruger Redhawk .44 bem na perna ontem anoite, e ele ainda grita bastante de dor, deve ter rompido muitos ligamentos e os médicos não têm muita esperança de que ele volte a andar. Ao meu lado os soldados engatilham as armas, conferem munições e equipamentos, relembram ordens e pensam na família, e eu aqui escrevendo toda essa merda pra vocês, não parece haver muita glória nisso, mas, de fato não há glória na guerra.
Vocês deviam ver como as pessoas mudam nessas situações, elas se revelam quando pisam no campo de batalha, quando são obrigadas a escolher entre salvar a própria vida ou a vida de seu companheiro, aí vemos seu real valor, vemos quem é amigo ou inimigo. Já me acostumei com o sangue derramado, também tive que me acostumar a derramá-lo, atirar a queima roupa e em inimigos desprevenidos têm se tornado rotina pra mim nesse último mês, e por Deus, queira você nunca precisar fazer isso.
Para que você saiba um pouco sobre nossa missão vou redigir nesta carta, apesar que, creio eu, até um mendigo das ruas de São Paulo sabe o por que estamos aqui.
Somos um batalhão separado do exército brasileiro, treinados única e exclusivamente para caçar e eliminar os "cabeças" que iniciaram os ataques no nosso país, nosso trabalho é, na técnica, fácil, mas quase impossível na prática, mas ninguém se preocupa realmente com isso.
Estamos a um mês em território americano e já tivemos êxito em duas caçadas, o primeiro fora o sargento Sanches ao norte, e o segundo o cientista Jeffrey Wins, e sim, eu ajudei a captura-los, desde que estou aqui meus sentidos foram obrigados a se desenvolver, ás vezes acho que estou louco por que aos poucos eu perco o senso, algumas vezes me peguei em completa fúria no campo de batalha, correndo e atirando em cada filho da puta a minha frente, e é isso o que a guerra faz com as pessoas, tira parte de sua sanidade, mas isso é justo comigo? Foi realmente justo? Ser jogado aos dezesseis anos no campo de batalha em meio a soldados de verdade? Ter de caminhar por mortos e carregar seus túmulos, ter de enterrar corpos e atirar em alguém, não era o futuro que eu tinha para mim, isso não estava nos meus planos.
Mas o perigo estava em nossa porta, eu entendo, os americanos já planejavam um ataque contra as minas brasileiras a um tempo, então tínhamos que surpreendê-los de alguma forma, assim o exército brasileiro foi mandado ao solo americano antes mesmo que eles penassem nessa possibilidade, e como éramos poucos os alistados, e muitos os ineficazes, qualquer garoto de dezesseis anos, que não fosse o único homem da família teria de ser incluso ao exército. Assim eu vim parar aqui, mas não vou mais ficar me lamentando, aliás à muito eu não o fazia, mas melhor ter minha vida arriscada na guerra para salvar a pátria, do que a do meu querido pai, que já está muito velho e doente, ou do meu querido irmão, por nada nesse mundo desejaria que eles tivessem vindo em meu lugar, e sei que se orgulharão da minha morte nestes campos.

O céu está escuro de fumaça lá fora, e Thomas continua gritando, e os soldados ainda fazem suas malas para o próximo ataque, nós vamos para o sul, onde há uma concentração de comida em reserva. Vamos atacar, matar e pilhar o que encontrarmos, Deus tenha misericórdia de nós, pois sairemos pra matar.

Este é apenas um breve relato do que aconteceu desde que chegamos aqui, a guerra está apenas no começo e muito sangue ainda vai ser derramado, acho que verei muitos amigos morrer e muitos nos matarem com um punhal nas costas, mas isto é guerra, isto é guerrear e como já disse não vouficar me lamentando. Eu sou Willian Torres, escrevendo de território americano para dizer que, Eu te amo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Gritos, baques, rosnados e uma vingança de amor

                A noite estava com poucas nuvens, permitindo uma bela vista das estrelas e da grande lua cheia pouco acima do mar. Reynald sempre soubera como impressionar uma mulher, mas esta era especial, esta conquistara seu coração. O sonho que tivera, com uma linda mulher dançando com o mesmo vestido vermelho, que ela vestia quando a conheceu na noite seguinte. Tudo mostrava como ela era especial e perfeita para ele. Tudo mostrava que aquele jantar em sua casa de praia, 50 km distante de qualquer coisa, seria ideal.
                Juliene havia acabado de trocar-se para o jantar e já descia deslumbrante pela escada central. Uma linda mulher de cabelos vermelhos brilhantes e corpo com curvas delicadas e provocadoras marcadas por um simples vestido vermelho. Sua pela branca naquela noite estava mais corada, Reynald não se lembrara de vê-la assim outras vezes, sentiu o peito arder, julgou ser paixão.
                Após o jantar a beira mar, Reynald convidou Juliene para uma caminhada à praia, mas sem perceber, a jovem o enredava mais com suas provocações, levando-o cada vez mais para perto do bosque nas redondezas. Reynald deitou-se com ela na grama, não se lembrava do corpo de Juliene ser tão quente, julgou ser o desejo, começou a despi-la e se entregaram ao prazer.
                Deitados ainda, Juliene estava pálida e Reynald percebeu sua pele mais fria, quase gelada. Perguntou o que estava acontecendo, se ela estava bem.
                - Na verdade não, sabe o quanto me custou todo esse disfarce? – Juliene ganhava um sorriso sínico enquanto falava.
                - E o teatrinho? O quanto me cansou ter que te aturar com todo esse grude nojento... – O sorriso aumentava.
                - O quê você quer dizer com isso? Não estou entendendo nada amor! – Reynald quase em desespero infantil, seus olhos murcharam e já não tinham mais brilho.
                - Não esta entendendo? Eu explico! O sangue fica mais delicioso após uma paixão e uma boa dose de medo... – As presas aumentaram, um sorriso de tubarão.
                O jovem levantou-se em pânico, mas caiu pela calça enroscada nos pés, olhou bem para quem realmente era sua amada. Uma expressão cadavérica aproximava-se lentamente. Ainda houve tempo para ela satirizar o desempenho sexual de sua presa.
                Quando chegou perto o suficiente da presa estática de medo e incompreensão, um uivo cortou as arvores do bosque, uma sensação parecida com algo gélido rastejando espinha acima e acomodando-se no cérebro, Juliene estacou como se houvesse congelado. Realmente congelara.
                Duas criaturas humanóides, grandes e com aspectos lupinos surgiram por entre as arvores. Um era uma pilha disforme de músculos, presas enormes que impediam a boca de fechar-se sem ferir-se, fazendo-o babar debilmente. Seus olhos vermelhos iam de encontro com os de Reynald, livre para correr, mas incapaz de qualquer ação.
                Via pulsar os grandes e grotescos músculos de seu algoz, ao mesmo tempo em que sentia seus próprios desfalecerem. O medo o paralisou.
                O demoníaco lobo humanóide o abocanhou entre a barriga e o tórax, ossos quebraram, vísceras foram puxadas e seu corpo foi suspenso. O jovem soltou um curto grito com todas as suas forças e fôlego. Na verdade, continuou gritando por mais tempo, mas tamanha fora a dor que logo estourara suas cordas vocais.
                O demônio o soltou, suas tripas ainda enroscadas nos dentes da fera não o deixaram cair muito, mas os ossos quebrados logo as perfuraram e rasgaram, levando-o à poça de seu próprio sangue. Não estava morto nem inconsciente, podia ver sangue brotar de seu pulmão em curtos esguichos. Podia sentir sua cabeça mais leve e ansiava pelo doce abraço da inconsciência.
                A segunda criatura, que era esguia e magricela, com muitos ossos protuberantes, aproximou-se da vampira e com uma voz rasgada lhe disse:
                - Este é nosso território! Esta é a lei! Isso agora é guerra!
Reynald sentiu seu coração acelerar, viu o sangue esguichar mais forte, sentiu seus músculos estourarem. Começou a convulsionar no chão.   Seus musculos latejavam, se contraiam, sangravam. Pelos nasciam em todo o corpo, seu rosto começou a se deformar, a transformação o fez gritar novamente. Logo havia um novo ser lupino, que ainda regenerava seus ferimentos de homem, enquanto observava tudo com olhos de fera.
                - Irmão! Mais um no Clã! Sua iniciação será caçar a vampira! – Esbravejou a fera esguia e com um segundo uivo descongelou a nova presa. A vampira correu em velocidade incrível, o novo homem-lobo uivou e saiu com velocidade e ferocidade inacreditável. E naquele bosque se ouviram gritos, baques, rosnados e uma vingança de amor.